quarta-feira, 8 de maio de 2013

De repente.


DE REPENTE

(Publicado em 2008 na obra: “Sapatos e Letras”. Quase uma profecia!).

De repente a pista do aeroporto mais utilizado do Brasil não escoa mais a água da chuva, ficou, de uma hora para outra, sem sistemas de escoamento.
De repente descobriram que existem controladores de voo. E que são em número insuficiente.
De repente apareceram jovens armados, em pleno dia, e arrancaram as pessoas de dentro do carro. Menos um menino.
De repente cidadãos comuns são aterrorizados com telefonemas de sequestradores, de dentro de prisões que, calmamente, tiram nossa paz.
De repente uma marquise cai matando algumas pessoas.
De repente uma quadrilha rouba um carro e o queima com a família ainda lá dentro.
De repente traficantes invadem um colégio e agridem gravemente o diretor que tentava evitar a invasão.
De repente uma professora denunciou o tráfico na escola onde trabalha e teve sua vida ameaçada por ex-alunos seus.
De repente a safra da soja não poderá ser embarcada, nem exportada. Não pelo porto de Paranaguá, pois as águas, como pode isso, ficaram muito rasas.
De repente uma avaliação internacional sobre a qualidade da educação descobre que o ensino no Brasil é tão deficitário que há adolescentes escolarizados, mas semianalfabetos.
De repente irão descobrir que há algumas faculdades no Brasil formando advogados, médicos, engenheiros, professores, psicólogos e tantas outras profissões, sem um mínimo de qualidade nem de condições de formar profissionais adequados às exigências da profissão nem da decência. 
De repente se descobre que o Estado, em algumas escolas, é tão incompetente que é melhor garantir a entrada de seus alunos na universidade por meio de cotas.
De repente será descoberto que se a taxa de crescimento do PIB for maior que a atual, vão faltar estradas, portos, aviões, contêineres, silos de armazenagem, infraestrutura em geral.
De repente vão descobrir que em algumas cidades brasileiras o Estado não tem mais poder que um grupo de bandidos que, repentinamente adquiriram espaço.
De repente todos saberão que uma passeata com muito barulho, faixas e camisetas brancas é vista por alguns políticos apenas como “reação natural”.
De repente minha empregada falou: “Acabou o gás, o senhor pode sair para comprar outro botijão?” E aí eu estouro. Brigo; pergunto: “Por que não avisou antes, quando usou o botijão reserva? Pelamordedeus! Tem que esperar aparecer o problema para pensar em uma solução? Não dá para planejar? Não dá para pensar nas consequências e agir antecipadamente? E o pote de margarina? Precisa esperar acabar totalmente para só então pedir para comprar outro? E o detergente para lavar louça, tem que esvaziar totalmente para lembrar que precisa mais? Os pelos da vassoura caíram de uma hora para outra?”
Essa minha empregada! Quanta falta de bom senso! Ela espera o problema aparecer para correr atrás de uma solução. Não consegue agir antecipadamente. Não consegue ser pró-ativa. Acho que ela não compreende essas coisas, coitada. Não consegue planejar nada. Mas é muito querida com as crianças.
Fechem a pista. Tem dois milímetros de água nela. Rápido! Caiu uma chuva de repente.


MEIER, Marcos. Sapatos e Letras. Curitiba: Editora Melo. 2008. Disponível no site www.kapok.com.br

Um comentário:

Laura Dorigo disse...

Ola meu nome é Laura, 13 anos, Curitiba, Campina Grande do Sul.
A muitos meses eu deixei um recado para o senhor devido a um livro que eu esta escrevendo não sei se o senhor se lembra, porem hoje não escrevo mais ele devido e ficar muito tempo a espera de sua resposta - dois textos que eu precisaria estudar antes de mandar avaliarem meu livro. Hoje eu achei o papel onde havia anotado tudo o que o senhor me disse e gostaria muito se tivesse como o senhor me passar esses 2 textos que o senhor ficou de me passar porque eu estou a escrever outra historia muito bonita e gostaria em breve publica-la porem gostaria de ler esses textos.

Se possivel me passe pelo email: laura_dorigo@hotmail.com

Obg!!