sábado, 15 de dezembro de 2012

DISCURSO DE MARCOS MEIER COMO CIDADÃO HONORÁRIO DE CURITIBA.


Boa noite!
Quero iniciar minha fala cumprimentando a excelentíssima sra. Noêmia Rocha presidente desta mesa, o vereador Jair César proponente dessa titulação e a todas autoridades aqui presentes, já nomeadas.
Em especial agradeço a presença de todos vocês que vieram me honrar com sua companhia. Essa noite só é linda porque você está aqui.

Me orientaram a ser breve, e apesar disso ser uma tortura pra mim, vou ser. Vou fazer o máximo para cumprir o prazo. Escrevi esse discurso no dia 12 de 12 de 2012 e tem aproximadamente 12 minutos. E isso não tem nada a ver com o fim do mundo. (Coisas de matemático).

Vou contar-lhes uma pequena história vivida por meu avô, o vovô José, pai da Jane, minha mãe coruja que a vida toda me apoiou e torceu pelo meu sucesso como pessoa e como profissional. (Obrigado mãe).
Meu avô tocava violino na igreja luterana da cidade de Imbituva, interior do Paraná. Por mais de 30 anos nunca faltou a nenhum dos cultos e a nenhum dos ensaios. Para homenagear tal atitude e disposição, a comunidade da época resolveu presenteá-lo com um corte de terno. Era um presente caríssimo, de muito bom gosto e que, com certeza, seria recebido como honra pelo “seu José”. Mas a surpresa foi grande. No dia seguinte à homenagem, meu avô foi até a loja, pesquisou o preço, e na próxima reunião devolveu cada centavo à comunidade. Disse:

- Que esse dinheiro seja melhor usado para as crianças pobres ou para outras necessidades que a igreja possa ter. Não aceito essa recompensa, pois nunca toquei violino para vocês, foi para Deus. E se vocês me recompensarem agora, que recompensa terei eu no céu?

Agradeceu o carinho das pessoas, mas devolveu o presente. Não aceitou a honra.
Muitas pessoas não entenderam, algumas acharam que ele era um arrogante, um mal-agradecido. Outras compreenderam a profundidade do gesto. Nosso trabalho deve ser para Deus, para o bem comum, para a sociedade, para diminuir a miséria da existência humana e não para nossa honra ou nossa glória. Não para nós mesmos. Então, caros vereadores e cara plateia, quero lhes dizer que hoje, nesse momento especial em que desejam me outorgar o título de cidadão honorário de Curitiba, eu, lembrando do  meu avô, digo que: ... aceito de coração aberto e grato essa honra e que nem tudo o que nosso avô faz a gente tem que fazer igual. Não vou devolver esse presente, não!
Na verdade, o ensinamento que ele deixou eu tenho tentado seguir: fazer tudo como se fosse para Deus e não para nós mesmos.

Tenho em meu trabalho tentado simplificar os conceitos teóricos da educação e da psicologia para que pessoas de todas as formações e até aquelas que nenhuma formação têm, possam aprender e melhorar a interação com as crianças, com os estudantes, e uns com os outros. Não é tarefa fácil, mas faço com o coração feliz e realizado por saber que, como meu avô, posso trabalhar sem pensar na recompensa terrena, mas me alegrar com o crescimento das pessoas nas mais diferentes cidades de nosso país, especialmente em Curitiba.
Sou grato também a meu avô paterno que decidiu morar em Rolândia, onde nasci tempos depois. Ainda criança moramos em cidades do interior do Paraná como Japurá, Cianorte, São Tomé e Imbituva de onde saí com dez anos de idade para vir para a capital que me acolheu e me deu as oportunidades para meu crescimento profissional.

Agradeço a todas as pessoas que direta ou indiretamente me ajudaram, incentivaram e me apoiaram. Tive meus vales e montanhas, como a Gilgreice cantou e que mesmo neles a presença divina me confortava.

Iniciei como professor de Matemática e nas aulas da licenciatura perguntava:   “professor, por que os alunos amam matemática enquanto outros odeiam?”    E a resposta que ouvi foi: “amor e ódio é da psicologia, não da matemática”.
Fiz psicologia. Lá, os professores me diziam: “gostar de aprender matemática é do campo da educação, não da psicologia”.
Fiz mestrado em educação. Perguntei: “Por que alguns amam matemática e outros odeiam? Os professores de matemática disseram que a psicologia responderia, os psicólogos disseram que os educadores responderiam, então pergunto a vocês o porquê.”  Os professores do mestrado me disseram: “boa pergunta”! Tive que tirar minhas próprias conclusões. E uma delas é a de que o professor que sabe ser amigo, que exerce sua autoridade com acolhimento e justiça, que sabe rir dos próprios erros, e é bem humorado, que ama o que faz, esse ajuda o aluno a amar o que é ensinado. O mesmo acontece com os pais em relação a seus filhos. O contrário afasta.

Tenho tentado ajudar as pessoas a amarem o conhecimento, os princípios de educação, a respeitar a filosofia e a ética, a buscar a sabedoria. Tenho tentado ajuda-las a aprender a aprender. E quando não mais precisarem dos meus ensinamentos, é porque se tornaram autônomos, independentes e terei me tornado dispensável. Quando olho para meus filhos e vejo o quanto já não mais dependem de mim, o quanto pensam por suas próprias cabeças, fico feliz por ter cumprido meu papel. E mais feliz ainda por ver que tipo de homens e que tipo de mulher se tornaram. Martin e David, obrigado por terem feito minha vida de pai ter valido a pena. A Rebecca, que está longe, em trabalho social numa missão internacional, também me faz relembrar que pessoas valem mais que coisas, que a vida vale mais que dinheiro e que tudo isso pode sim ser colocado em prática como ela está fazendo.
Mas nem tudo é tão bonito e nem tudo é tão aparentemente perfeito. Sofri muito para acreditar que um dia eu pudesse ser alguém, que poderia ajudar outras pessoas ou que minha vida pudesse ser útil para quem quer que fosse. Na escola, antes do bullying ser conhecido por esse nome, eu era chamado diariamente de “pau de catar laranja, espanador de lua, urubu branco, perna de vela”  e mil outros xingamentos constantes que me traziam dor e ideias suicidas. A vida não tinha graça e era pesada demais para mim. Não é fácil ser adolescente, mas mais difícil ainda é ser adolescente muito alto, muito magro, muito branco e muito burro pra acreditar que isso fosse importante. Por sorte, eu tinha irmãos que me amavam, (Jeff, John, Audrey e Kennedy – como vocês podem ver, minha mãe gostava muito de ir ao cinema)  mãe, tia e avó que me bajulavam, me valorizavam e eu comecei a duvidar dos xingamentos. Comecei a acreditar que talvez eu pudesse dar certo na vida. Meu pai me falava: “você nunca vai me dar problema na escola, vai passar direto, dá pra ver”. E eu acreditei.
Nos últimos anos tive ajuda de algumas pessoas especiais a quem também sou grato como a Márcia Macionk e David Sasson que me abriram as portas para entender Feuerstein e a mediação da aprendizagem, o jornalista José Wille que me abriu as primeiras portas na mídia, a Adriana Karan do colégio OPET que me contratou pela primeira vez como professor, o Odilon Scroccaro que me contratou no colégio Santa Maria que investiu em minha formação profissional, a psicopedagoga Isabel Parolin que sabendo do meu dom para falar em público me apresentou ao Marcos Melo da Futuro Eventos onde estou até hoje palestrando. Há muitas outras pessoas que direta ou indiretamente foram importantes para mim, mas que não tenho tempo para nomeá-las agora. Mesmo assim, sou grato a elas.
Hoje estou aqui com uma carga enorme de histórias de sucesso, de fracasso, de alegrias, de tristezas e de realizações. E quando eu estava sobrecarregado, caminhando para uma estagnação pessoal, imerso numa solidão profunda que a vida me trouxe, veio a Jeanine Rolim, hoje minha noiva, e ficou ao meu lado. Ela me reapresentou para o Marcos neto do vovô José, filho da dona Jane, pai do Martin, da Rebecca e do David. Reapresentou-me para mim mesmo e me fez relembrar que posso me realizar sem culpa em aparecer na TV ou no rádio para ensinar sem medo de parecer orgulhoso, arrogante ou prepotente, pois sei que a honra e a glória não são méritos meus, são de Jesus. E que reconhecer que sou importante na vida das pessoas não é ser metido, estrela ou celebridade, é cumprir a missão para a qual todos nós viemos. E por isso posso dizer do fundo do meu coração:
Curitiba, obrigado pelo carinho de me adotar como um de seus filhos e a todos vocês, do fundo do meu coração, muito obrigado!

Discurso de Marcos Meier na sessão especial da Câmara dos vereadores de Curitiba para outorga do título de cidadão honorário no dia 13 de dezembro de 2012, às 20h00 nas dependências da própria instituição.