terça-feira, 10 de julho de 2012

Estética do Absurdo





Estética do absurdo.
(Jeanine Rolim)

Ontem soube de mais uma pessoa que perdeu a vida em meio a uma cirurgia estética. Procuro não ser radical em nenhuma questão da vida, mas confesso que essa é uma daquelas que me aflora a mais visceral indignação. 

A tormenta que nos acomete diariamente nas propagandas de Tv, nas páginas de revistas , sites e redes sociais faz com que nos sintamos sempre aquém do que  verdadeiramente somos, menos do que sonhamos e tudo mais de menos que alguém possa sentir.

Gorda demais, baixa demais, alta demais, bochechuda demais, cabelo crespo (ou liso) demais, seio pequeno demais e por aí vai. Em 30 segundos vamos de um estágio de normalidade psíquica à insanidade da estética do absurdo. Nada mais está bom. Precisamos mudar!

Há pouco, pra fechar o dia, li um post de um renomado jornal brasileiro no qual a foto do ator Reinaldo Gianecchini tinha como legenda a seguinte frase “Gianecchini exibe o novo visual após a quimioterapia. Aprovam?”  Seria eu a única indignada com a manipulação midiática e seu bullying coletivo ou isso é realmente desprezível?? O cara supera um câncer, está ainda em tratamento e os veículos de comunicação nacional gastam seu espaço e tempo para perguntar se ele está “gato”?! Algum ser humano desse planeta insignificante tem que aprovar? E cá entre nós,  confesso que na minha opinião ele está ainda mais lindo com aqueles cabelinhos grisalhos, mas o que importa isso diante do milagre da vida, do desafio de seguir respirando a cada manhã, da esperança em prosseguir? Meu Deus, temos colocado por prioridade o formato dessa massa perecível que carregamos entre nossos ossos que ao pó retornará... É isso mesmo?? Quanta tolice!!

A pessoa que morreu era uma jovem que tentava reduzir o peso antes de uma primeira gestação, recém-casada, bonita, cheia de vida. Fácil julgá-la, difícil mesmo é pararmos de aceitar a “idiotização” coletiva transmitida em canais abertos e fechados. 

Popozudas das coxas mais duras que  mármore, seios mais inflados que balão de festa infantil, “bocas de bagre” e rostos engessados que nunca deixam claro estar rindo ou chorando. Todo mundo igual, padronizado, “coisificado”. Até quando acharemos isso normal??

Há um ditado indiano que diz: “Ao final da partida de xadrez o rei e o peão vão para a mesma caixa”, a questão é como viveram durante “a partida”, o que lhes foi mais importante. Vale refletir, não?