quarta-feira, 27 de junho de 2012

A feminilização do ambiente da pré-escola


A feminilização do ambiente da pré-escola

MEIER, Marcos. "A feminilização do ambiente da pré-escola." Revista Profissão Mestre. n. 52, janeiro, 2004, p.12-14.


Mochila completa, tênis amarrado, uniforme colorido, lancheira na mão. O menino animado, sorridente, brinca com os objetos como se fossem caminhões encantados que carregam “seu mundo”: desde areia – agora proibida para não sujar sua roupa – aos heróis invisíveis que mudam de poderes tanto quanto mudam os objetos à frente. O homem-aranha, o super-homem, o super-sei-lá-o-quê são invocados e despachados conforme a necessidade, conforme a imaginação. O trator, pequeno demais para carregar qualquer coisa maior que uma moeda, é o mais poderoso e mágico ser fantástico nesse universo das coisas que aparecem e desaparecem, guerreiam e caminham juntas. A "Ferrari", materialização do sonho do pai, corre mais rápido que o X-Man. Mas é hora de sair do colorido do seu mundo de encantos para entrar no carro e partir para o seu primeiro dia de aula. Alguns brinquedos, heroicamente, conseguem permanecer ao seu lado enquanto o motor é acionado.
Do outro lado, sorrisos maternos (às vezes paternos) tentam em vão esconder a dor de perceber que o filho será cuidado por outras mãos, talvez não tão carinhosas, talvez não tão compreensivas. A lembrança das notícias dos telejornais da noite cuidam de incrementar o sofrimento.
Fica comigo...
Em meio a todos esses sentimentos conflitantes e a correria dos compromissos profissionais suspensos por uma longa e angustiante hora, a dupla sai de casa. Logo chegam à escola e as dúvidas insistem em ressurgir: elas, as professoras, se aproximam. Orientam a mãe quanto ao número da sala. Sorriem para o menino, perguntam seu nome, fazem-lhe carinhos. Tornam o ambiente acolhedor. Os medos da mãe se abrandam por seu filho, mas não desaparecem, pois observa outras crianças que choram, que esperneiam. Algumas correm para o parquinho, parece que já conhecem os melhores lugares, são "antigos" na casa.
O menino, com olhar triste, diz: "mãe, fica comigo". Ela, por um instante, recebe dos céus a recompensa por anos de atenção, carinho, brigas, choros, sorrisos e sonhos. Não há nada no mundo mais significativo que esse olhar inocente cheio de dengos e de pequenos medos. O tempo parece parar. Ele a ama. A mãe, com um sorriso, diz que depois voltará para buscá-lo e que ele precisa ficar ali, pois as professoras são muito legais e há muitas crianças para brincar. Dos dois lados, lágrimas. As dela, contidas por enquanto.

Os super-heróis e a Ferrari precisam ficar em casa?
Depois de alguns dias e choros, o menino já está acostumado com o novo ambiente. Corre para o parquinho. Esquece de dizer "tchau" à mãe. Tudo parece ter entrado em seus eixos como a vida deve ser. No entanto, algumas coisas ocultas jamais serão notadas. Não há na parede da sala nenhum trator. Algumas identificações com suas fantasias, brincadeiras e sonhos ficaram de lado. Os super-heróis ficaram em casa. Os incríveis poderes de aparecer e desaparecer, de voar, carregar e de erguer estão no quarto. Talvez estejam na sala de estar enquanto a mãe não tropeçar neles e os levar para a caixa dos brinquedos.
A escola não parece ser lugar para essas coisas "tão violentas". Nas paredes das salas e dos corredores, com pequenas imperfeições na perspectiva dos desenhos, está o incrível mundo maravilhoso do açúcar cor-de-rosa. Tudo parece adocicado. Nuvens branquinhas sorrindo. Fadas voando com suas asinhas transparentes. Ursinhos de pelúcia e seus intermináveis sorrisinhos fofinhos. Uma infinidade de outros diminutivos. A doçura do acolhimento. A Ferrari, bem, o Rubinho que me perdoe, mas a Ferrari aqui na escola, nem em segundo lugar. Essa escola é das mulheres. A professora, a faxineira, a cantineira, a inspetora, a professora auxiliar, a de Artes, a de Música, a de Inglês, aquela outra mulher que cuida de não sei bem o quê. Todas mulheres. Quando um homem surge, é porque vem buscar alguma coisa, carregar alguma caixa. Trazer uma TV. Os olhares de todos os cantos o constrangem. Precisa sair logo, é quase um invasor.

O despertar dos símbolos e a reflexão
Esse relato não é uma crítica, não é símbolo de nenhuma bandeira, de nenhum movimento. Não é o retrato de todas as escolas. Não serve para algumas pré-escolas das nossas cidades. É tão somente um convite à reflexão. Um despertar para que se acolham pequenos símbolos, pequenos detalhes que, com muito bom senso, possam representar ou servir de objetos de identificação da masculinidade dos pequenos "rubinhos" e dos pequenos "super-eu-consigo" e dos "X-sou-bom".
A escola pode e deve acolher a masculinidade e a feminilidade presentes em todas as crianças, considerar, incentivar e despertar as diferenças. Pode e deve ressaltar o quanto são complementares, jamais excludentes. Deve criar um ambiente para permitir que, em cada criança, possa haver um equilíbrio maior entre as características humanas presentes neles e nelas, do acolher e do brigar, do empurrar e do abraçar, do lutar e do unir-se. Pois não são características pertencentes ao homem ou a mulher, mas a todo ser humano, homem e mulher, que incansavelmente precisam ser e estar no mundo e, de preferência, harmoniosamente juntos. São representações da busca pelo novo, da ousadia, do saber impor-se e do saber dizer não quando se quer dizer não, saber dizer sim quando realmente for a melhor resposta. Tais posturas frente ao mundo são frutos não do masculino ou do feminino, mas do equilíbrio entre eles. E são fundamentalmente necessários para futuros homens e mulheres conscientes de seus papéis na sociedade.
— Pai, na minha sala tem um tratorzão gigantão maior que esse daqui ó....
— Uau! que legal né, meu filho?
— É. Minha escola é bem legal.
E a convivência harmoniosa do “mundo feminino” com o “mundo masculino”, possivelmente um e outro estereotipados num primeiro momento, servirá de solo fértil para o crescimento da convivência, da tolerância, do respeito e, principalmente, do aceitar-se e completar-se mutuamente.

O exercício das trocas entre meninos e meninas
Mais tarde, homens e mulheres saberão respeitar os espaços e idiossincrasias de cada um, pois terão aprendido, desde muito cedo, que podem conviver em harmonia. Cada um saberá, com melhor propriedade, considerar internamente suas forças de ataque e de defesa, de acolhimento e de afastamento, de aceitar e rejeitar, e, principalmente, de ser íntegro, completo. Pois meninos e meninas carregam em si o masculino e o feminino que só se desenvolvem completa e saudavelmente no exercício das trocas. Muito provavelmente esse crescimento não será mérito da escola, mas, certamente, terá ocorrido com sua contribuição.

quinta-feira, 14 de junho de 2012

Peso ou enfeite?


Peso ou enfeite?




O sujeito era um famoso engenheiro civil, bem sucedido. Proprietário de uma construtora. Gostava de valorizar pessoas trabalhadoras. Tinha muitos amigos importantes: políticos, empresários e um pedreiro. Isso mesmo: um pedreiro. O pedreiro era uma pessoa simples, de bom coração e muito eficaz na arte de assentar tijolos. Às vezes, passavam algum tempo juntos após o horário, conversando sobre a vida e sobre detalhes dos acabamentos. Gostavam de ir a uma lanchonete na esquina, próxima à construtora para tomar um café e ficavam ali trocando ideias. 
Certo dia o pedreiro trouxe uma notícia que iria mudar para sempre a situação patrão-empregado. Ele abrira sua própria empresa de reformas e não trabalharia mais naquela construtora. A notícia foi triste por um lado, mas muito boa por outro, pois o engenheiro ficava feliz em perceber o sucesso e o crescimento de seu amigo. No dia da despedida, foi organizada uma pequena cerimônia, um coquetel para que a construtora pudesse homenagear seu funcionário que durante tanto tempo havia investido seu trabalho nas obras e o fizera com tanta presteza. Nesse momento, o pedreiro buscou sua “colher-de-pedreiro”, lavou-a e disse a todos: “Quero dar essa colher ao meu melhor amigo, ela foi do meu pai, o cabo foi feito com a madeira de uma laranjeira que ficava no fundo da minha casa. Ela é especial para mim. Todas vezes que eu a uso, lembro de papai, da minha infância, dos meus irmãos correndo no quintal em volta da laranjeira”. E entregou-a ao engenheiro. Emocionado, o engenheiro agradeceu e disse a todos que faria um gesto igual. Foi até o carro e trouxe sua calculadora ultramoderna presenteando-a ao pedreiro dizendo: “agora que você vai ser empresário, vai precisar calcular seus lucros, que espero que sejam muito grandes”. Despediram-se com um abraço. Teriam chorado, mas o ambiente não facilitava. Tempos depois, o engenheiro foi visitar a empresa de reformas de seu amigo pedreiro e viu a calculadora sendo utilizada como peso para papéis. Ele riu e falou: “você usa a melhor calculadora do mercado como peso de papéis?” Era realmente estranha a situação. Um objeto da alta tecnologia sendo utilizado apenas como peso. O pedreiro, com ar de quem estava envergonhado, disse: “me perdoe, amigo, mas não tenho tantas contar para fazer e quando preciso, uma calculadora simples dá conta do recado. Essa que você me deu é fantástica, mas pra mim que sou simples, é muito complicada. O engenheiro riu quando lembrou que a colher que ele próprio havia recebido tinha sido lixada, pintada e servia como enfeite em uma prateleira em seu escritório. Nenhum dos dois objetos estava sendo utilizado em suas funções originais. Não haviam sido fabricados para o que estavam “fazendo” atualmente. Perderam o valor inicial, não serviam para mais nada além de “peso” ou de “enfeite”. Por mais que o pedreiro diga que a calculadora está sendo útil, ela não está sendo usada como calculadora, apenas como peso. Mesmo que o engenheiro afirme que o destino da colher é nobre, ela não está sendo útil como colher.
Essa história me faz pensar na minha função como professor. Qual é realmente nossa função? Antigamente era ensinar. Hoje sabemos que não basta. A real função de um professor, a única forma de ser útil e de se realizar como profissional é fazer aprender. Se um professor não faz aprender, serve apenas como peso, talvez um peso na vida de seus alunos. Se um professor não promove a aprendizagem, talvez esteja sendo apenas enfeite. Pode até ocupar espaço na escola, na sala de aula, ou na vida de seus alunos... mas de nada serve. Não há boa intenção nem bom coração que possam superar o sentimento de realização de sermos o que realmente somos: provocadores da aprendizagem. Isso nos realiza.

Marcos Meier é professor, psicólogo, escritor e palestrante. Suas obras se encontram na loja virtual www.kapok.com.br  

quinta-feira, 7 de junho de 2012

IRMÃOS QUE BRIGAM TODOS OS DIAS

Seus filhos vivem brigando? Talvez o problema esteja na forma como estão sendo educados. Crianças que recebem tratamento muito igual, são amadas de forma igual, acabam se sentindo iguais, o que gera a necessidade de competir para ver quem consegue receber algo dos pais "a mais" que o irmão. Para resolver o problema, é preciso que cada criança receba tratamento diferenciado, de acordo com a idade e a personalidade de cada um. Além disso, tenha momentos de intimidade com cada um de seus filhos. Um passeio, uma programação só você e um dos seus filhos. Numa outra vez vai o outro filho, mas num programa diferente que não dê nem pra comparar. Nesse dia, fale para seu filho o quanto você o ama. Mais tarde, cada um deles saberá e sentirá que é amado e a competição perde o sentido.
Marcos Meier  - seus livros estão na loja virtual kapok.

http://g1.globo.com/videos/parana/bom-dia-pr/t/edicoes/v/marcos-meier-fala-sobre-irmaos-que-brigam-demais/1980104/