quinta-feira, 14 de abril de 2011

ENSINAR TEM CHEIRO DE OFICINA.

Quando eu tinha cinco anos de idade, costumava ir à oficina de meu avô e explorar os mais intrigantes objetos. Ele era um sapateiro. Não daqueles que, heróicamente, vivem a custa de pequenos consertos em botas ou sapatos; ele os construía do couro bruto até a última pincelada de tinta preta. Eu sentia o cheiro do couro, da tinta, da cola e do pó. Com cinco anos de idade, a imagem de um homenzarrão de avental de couro e uma faca afiada na mão impunha muito respeito. Mostrava-me o couro cru sobre o balcão, os moldes, os cortes, as formas, as máquinas de lixar que ele próprio inventara e o processo de fabricação até o produto final sobre a prateleira.


Mas não era essa imagem rude que me fascinava. Era seu jeito carinhoso de pegar-me no colo, abrir um jornal e explicar com uma paciência enorme o som de cada sílaba e o nome de cada letra. Não havia uma didática especializada, não havia nenhum método pedagógico específico, mas fui alfabetizado. Aprendi a ver o mundo inteiro através daquelas páginas enormes suspensas no ar por mãos calejadas, rudes, ásperas.


O que fez a diferença? Por que ainda hoje lembro de sua voz, de suas correções e de seus elogios? Porque havia amor. As botas cano alto, os sapatos de salto ou o meu processo de alfabetização recebiam uma espécie de atenção que só existe naqueles que amam. Essa marca carrego ainda hoje. Lembro-me do carinho, da dedicação, das broncas e dos elogios.

 
Hoje meu jeito de ensinar está impregnado pela memória de meu avô. Provoco meus alunos, aponto falhas, elogio seus progressos e acima de tudo, respeito-os.


Quando leciono, provoco reflexões, assumo o argumento contrário e luto por ele até ser esmagado pela opinião bem fundamentada de meus alunos. Faço o contrário também. A síntese é construída por todos nós.


Quando apresento um conhecimento já elaborado por um autor, vou trocando idéias com meus alunos para que esse conhecimento possa ser incorporado, ligado, relacionado aquilo que eles próprios ja construiram, possibilitando-lhes a aprendizagem significativa como diz o educador David Ausubel.


A maiêutica socrática em que uma idéia se faz nascer e em seguida é lapidada por meio de diálogo argumentativo é o tom de minhas conversas com os alunos.


Leciono em cursos de pós-graduação. Como trabalho final, os alunos precisam construir um texto. Escolhem o tema, a forma de desenvolver o artigo, as obras à serem pesquisadas, o problema a ser levantado e a hipótese a ser defendida ou negada. Esses alunos tem a possibilidade de criar, de serem autores. Em suas próprias vidas é isso que precisam constantemente fazer. Quando desistem desse projeto, tornam-se escravos da mídia, da sociedade capitalista, da ostentação dos bens materiais, da moda e do consumismo em detrimento dos valores humanos de solidariedade, amizade, tolerância e de luta por igualdade e justiça social.

 
Entretanto, surgem alunos que não "aderem" ao processo. Preferem aulas expositivas nas quais tudo é sintetizado e explicado de forma que possam, passivamente, receber as informações e anotá-las pensado que suas anotações, uma vez memorizadas, podem ser transformadas em notas. Triste realidade.

Os alunos que aderem ao processo são diferentes. São autores de sua própria história, como diria Paulo Freire. Assim, o desafio de alcançar os alunos passivos torna-se maior. É preciso dizer "não importa a nota, o que você veio fazer aqui?" , "De que forma posso lhe ajudar?". Enfim, é preciso colocá-los no colo, abrir um jornal e carinhosamente ajudá-los a entender o mundo. Ajudá-los a perceber que não são as letras que importam, mas o que elas dizem. De vez em quando, uma bronca, uma provocação, uma pergunta para guardar. Outras vezes, é preciso mostrar o couro cru sobre o balcão e a bota de cano alto na prateleira, deixando que a imaginação preencha o espaço entre eles.

Meu avô faliu. A indústria de calçados aprendeu a fazer sapatos em série e a diminuir os preços. Ninguém mais queria suas botas e seus sapatos. Preferiam tênis ou sapatos que logo pudessem ser substituídos por outros mais modernos, "da moda". Entretanto, meu avô jamais foi um fracassado. Ele teve sucesso numa das maiores e mais significativas missões: educar.



MARCOS MEIER é mestre em Educação, psicólogo, escritor e palestrante.

O texto acima é parte integrante do livro "SAPATOS E LETRAS", do Prof. Marcos.
Este e todos seus outros livros, você encontra no site  http://www.kapok.com.br/.
 
Publicado, também, na Revista Profissão Mestre.
 

sexta-feira, 8 de abril de 2011

Tragédia em escola do Rio_07/04/2011

Que os risos interrompidos nos lembrem da finitude e
que a dor das famílias nos faça solidários.
Que o barulho das crianças nas salas de aula espalhadas pelo nosso país soe como música.
Que a música solte as lágrimas.
Que o choro... dê o reinício da esperança.
Que a esperança ... traga a paz.


Marcos Meier


MATÉRIA PUBLICADA NA FOLHA UNIVERSAL


Mentir é preciso?
Por Raquel Maldonado
Abril, 2011.

Quem nunca mentiu que atire a primeira pedra. Segundo um estudo norte-americano, cada um de nós conta uma mentirinha a cada 8 minutos e ouve cerca de 200 ao longo do dia. Seja para poupar alguém de um sofrimento, para escapar de um apuro ou até para recusar um convite, todos nós, pelo menos alguma vez, já lançamos mão deste artifício. Segundo especialistas, a mentira não é necessariamente ruim nem algo exclusivo de pessoas sem escrúpulos.

Às vezes, inclusive, ela se faz necessária para harmonizar as relações do dia a dia. “Todo mundo mente. A maioria das mentiras que contamos, porém, é mentira funcional,que serve para evitar conflitos no cotidiano. Algumas vezes a verdade é insuportável e ser sincero o tempo todo pode ser inconveniente e magoar as pessoas”, afirma o psicólogo Marcos Meier.

Ele conta a história de uma paciente que ilustra bem esta situação. Segundo o psicólogo, a mulher tinha feito um curso de sensualidade para agradar o marido e decidiu fazer um strip-tease utilizando a teoria aprendida nas aulas. Durante a dança, ele começou a rir muito e ela perguntou o que havia de errado. O marido respondeu que não era nada, mas que ela estava parecendo um lutador de sumô (tradicional luta japonesa praticada por homens obesos). “Neste caso, por mais que ele estivesse mesmo achando isso da esposa, nunca deveria ter dito algo assim, pois ela acabou ficando muito magoada e desmotivada. Faltou um pouco de sensibilidade. Por isso, nem sempre a verdade precisa ser dita. O segredo é usar o bom senso”, analisa Meier.

Mas existe quem abusa da mentira e acaba prejudicando outras pessoas. O caso do ator brasileiro Mário Gomes é um exemplo dos efeitos da difamação. Na década de 80, quando estava no auge da fama, uma mentira sobre a sua sexualidade acabou abalando sua carreira. Segundo ele, após o boato, nunca mais lhe foi oferecido um papel de destaque na televisão. “A mentira pode até começar de forma inocente, mas pode caminhar para a calúnia e a difamação”, alerta Rubens Wajnsztejn, professor de Neurologia da Faculdade de Medicina do ABC, na Grande São Paulo. Ele afirma ainda que quem tem a mania de inventar fatos e distorcer a realidade pode desenvolver uma patologia chamada mitomania, que é quando a pessoa começa a mentir de forma compulsiva e a sentir prazer nisso. Neste ponto, já não existe um propósito e qualquer coisa é motivo para inventar. “Os mitômanos se envolvem tanto nestas histórias que acabam acreditando nelas como se fossem a realidade”, alerta o especialista em neurologia.

Esse pode ser o caso de um dos mentirosos mais famosos do Brasil, o paranaense Marcelo Nascimento da Rocha, que usou 16 identidades falsas, entre elas a do filho do dono da companhia aérea Gol, para se dar bem. Inventando histórias de forma descarada, ele conseguiu enganar celebridades e dar vários golpes, até que finalmente foi preso em 2001 – ele ainda cumpre pena no Presídio Central de Cuiabá (MT). Sua história, que já foi contada no livro “Vips: Histórias reais de um mentiroso”, estreou no cinema na semana passada com Wagner Moura no papel principal.

O estudante Paulo*,de 26 anos, também é um mentiroso de carteirinha. Ele diz que mente na hora da paquera, para justificar o atraso no trabalho ou as faltas na faculdade, para entrar numa conversa e até para se gabar na frente dos amigos. “Eu não gosto de ficar deslocado nas rodas de conversa, então, invento uma coisinha aqui, outra ali, só para interagir”, admite.

De acordo com o professor de Neurologia da Faculdade de Medicina do ABC, a hora de se preocupar é quando a criança mente sem parar. “Normalmente elas inventam coisas e fantasiam muito, mas trabalho com duas que, mesmo sabendo que serão desmascaradas, continuam mentindo. Elas não se inibem e não se sentem sem graça diante das provas. É como elas tivessem uma compulsão pela mentira.

 

Nestes casos, é muito importante a ajuda de um profissional para que isso não se agrave no futuro”, afirma. Segundo Wajnsztejn, o comportamento destas crianças não deve ser aceito como normal e pode indicar que elas sofrem de um distúrbio psicológico conhecido como transtorno de conduta, onde os sinais mais comuns são roubo, furto, mentira, maus-tratos a animais e agressividade em excesso. “É claro que o diagnóstico deve ser feito por um especialista e não quer dizer que toda criança que demonstre eventualmente algum destes sinais tenha este quadro”, pontua.

 

O médico afirma que 40% dos transtornos de conduta evoluem para o quadro de transtorno de personalidade antissocial – que engloba os sociopatas e os psicopatas. Já 90% dos adultos nesta situação tiveram transtorno de conduta na infância ou na adolescência.

 

Ele conta que uma vez pediu o carro da mãe emprestado e ela só o autorizou a dar uma volta pelo bairro.Ele, porém, pegou a estrada e foi para o litoral.

A mãe não desconfi ou de nada até que, meses depois, chegou uma multa. “Ela me perguntou onde eu tinha ido naquele dia e eu disse que fiquei andando perto de casa. Ela voltou a perguntar e eu mantive a versão. Daí ela me mostrou a multa e me obrigou a pagar. Perdi R$ 98 e ouvi o maior sermão”, lembra.

 

Segundo os especialistas, o acompanhamento emocional nestes casos é importante para descobrir o que está por trás deste hábito. “Às vezes, o motivo pelo qual a pessoa desenvolveu a mania de mentir compulsivamente é muito mais grave do que a própria mentira”, conta Wajnsztejn. A baixa autoestima e a dificuldade de aceitação são apontadas pelos especialistas como fatores de risco.

Pode desencadear outros transtornos, como a depressão e o isolamento social, uma vez que é comum as pessoas se afastarem quando percebem que alguém mente muito. “A perda do emprego também é frequente nestes casos”, pontua Meier. Normalmente o tratamento é feito com psicólogo e, às vezes, com psiquiatra, quando há necessidade de medicamento.
O segurança Rogério*, de 33 anos, é outro mentiroso assumido. Ele relembra que uma vez chegou a ser preso por conta de uma mentira que contou para escapar de uma enrascada. “Fui parado pela polícia e fiquei com medo de ir para a cadeia porque levava comigo um pouco de droga. Então, decidi dar um nome falso. O problema é que o nome que eu dei era de um homem que estava sendo procurado por homicídio. Na hora eles me algemaram. Foi horrível ter de desmentir toda a história para o delegado.

 

Ninguém acreditava mais em mim e acharam que meu RG era falso, até que eles analisaram as minhas digitais e constataram que eu não era aquela pessoa. O delegado me deixou ir para casa, mas não antes de me deixar de castigo lá por 48 horas”, conta. De acordo com uma pesquisa alemã, os homens mentem com mais frequência que as mulheres.

 

Enquanto sete em cada dez mulheres afirmaram que tentam não mentir, seis em cada dez homens disseram fazer o mesmo esforço. Eles também se incomodam menos quando são desmascarados: enquanto 29% dos homens disseram não se importar, 18% das mulheres responderam o mesmo. Coincidência ou não, durante 1 hora e 30 minutos em que a reportagem passou nas ruas de São Paulo colhendo depoimentos sobre mentiras, nenhuma mulher assumiu mentir, nem mesmo eventualmente.


No mundo da fantasia

A infância é a fase onde a mentira parece estar mais presente. Existem diferentes tipos de invenções e motivos pelos quais as crianças inventam histórias. Um dos mais comuns é para se proteger de uma bronca. “Normalmente, quando os pais são muito rígidos, as crianças negam que tenham feito determinada coisa, como quebrar um objeto, para escapar da punição”, afirma a psicóloga infantil Beatriz Tupinambá.Segundo ela, ao perceberem este tipo de situação, os pais devem conversar com os filhos para mostrar que as mentiras têm consequências e devem impor os limites.

 

A psicóloga também alerta os pais a não confundir fantasia com mentira. “As crianças têm uma imaginação incrível. Elas são incentivadas a fantasiar, pois ouvem todos os dias histórias e contos de fada em que existem animais que falam, bruxas e fadas. Os pais não precisam se preocupar com isso, pois aos poucos a criança irá começar sozinha a diferenciar o que é fantasia da realidade”,completa.



quinta-feira, 7 de abril de 2011

Presentes que não quebram.

Adoro carinho, beijos, abraços e cafunés. Todo mundo gosta. O afeto é uma marca humana, somos todos carentes. Um bebê que não ganha beijos, abraços, colo, contatos “pele com pele” fica doente. A criança fica chata, enjoada, insuportavelmente irritante. Gira em volta da gente fazendo manha.
Os adolescentes também são carentes, mas pelo medo ingênuo de parecer criança, não gostam de receber carinhos na frente dos colegas. Infelizmente, alguns pais, sem diferenciar o contexto, acabam não apenas evitando carinhos públicos como na intimidade do lar. Erro comum.

E os adultos? São diferentes? De jeito nenhum. São todos carentes, mas disfarçam. E o fazem muito mal. Acabam deixando transparecer a carência por meio de comportamentos imaturos: Os homens entregam-se ao silêncio e ao mal humor enterrando-se em sofás isolados. As mulheres ficam contraditórias. Não sabem o que querem e acabam dizendo o que não querem. “Querida, não to te entendendo, dá pra me dizer o que você quer?” E a resposta muitas vezes piora as coisas: “nem eu sei o que quero!”. Pura carência! Homens inteligentes ouvem a contradição e interpretam: “quero carinho, atenção, sentir-me importante para você, mas não sei dizer”.
O que pensar então do fato dos idosos, de boa relação afetiva com seus familiares, adoecerem menos? O que tudo isso significa? Que somos profundamente marcados pelo afeto e nossas principais relações precisam exalar esse perfume!

A essa altura, suponho, você deve estar se perguntando: “Tá, e o que tudo isso tem a ver com presentes que não quebram?” A resposta é: Tudo! Em poucas semanas estaremos no ritmo natalino, onde a linguagem do afeto torna-se, quase exclusivamente, a dos presentes. Videogames, brinquedos, jogos, bicicletas, bolas, bonecas, celulares ou netbooks. Não há problemas em dar presentes aos seus filhos, mas daqui a alguns anos será maravilhoso ser lembrado pelo carinho dado, pelo afeto constante, pelas conversas compreensivas, por ser amado e por amar. Melhor que ser lembrado por algo que já quebrou, não é?
Um excelente Natal pra você e sua família e que o clima de afeto esteja tão presente como o ar à sua volta.

 
(Revista Viver. Novembro, 2010)


MARCOS MEIER é mestre em Educação, psicólogo, escritor e palestrante. Seus textos encontram-se no site www.marcosmeier.com.br e seus livros no www.kapok.com.br.

FILHOS DE BOM CORAÇÃO




Bondade não está na moda. Crianças boazinhas passam a impressão de que estão com medo ou são meio lerdinhas. Por que isso? Porque os contravalores que a sociedade está construindo e a mídia divulgando são outros. Vencer é melhor. Ser o mais rápido, mais esperto ou mais forte é alvo da molecada. As mensagens divulgadas estão impregnadas dessas idéias, enquanto as que valorizam o “bom coração” nem aparecem.

Minha avó já dizia: “Marcos, vá brincar com aquele menino, ele tem bom coração.” Eu ia. Mesmo sem saber o que realmente isso significava. E as brincadeiras eram muito legais, a gente se divertia muito. Quando eu brincava com alguém que não recebia esse título, logo desistia. Eram brincadeiras de empurrar, bater, sacanear alguém, jogar pedras em cachorros, quebrar vidraças. Parecia diversão, mas não era. Ficava aquele gostinho de “eu não devia estar fazendo isso”. Minha consciência pesava. Fazer o mal a alguém ou a algum animal para se divertir não era certo, nem no passado nem hoje. Ninguém precisa da dor do outro para rir. Podemos rir de tantas outras coisas. Podemos rir de nós mesmos e das nossas trapalhadas. Humilhar alguém para aparecer na turma, para ser o “popular” não é o caminho ao qual devemos incentivar nossos filhos.

Como ensinar os valores corretos? Falando, explicando, mostrando o que é humilhação, mostrando a dor do outro e fazendo nossos filhos refletirem a respeito. Esse é o começo. Além disso, podemos incentivar e elogiar todas as vezes que nossos filhos apresentarem algum comportamento solidário, honesto ou de caráter. Isso os fará perceber que o caminho para a maturidade está na construção e não na destruição. Está em agir de forma a aproximar as pessoas ao invés de afastar.

Recentemente estive conversando com um empresário em um vôo para São Paulo. Conversávamos sobre contratação e demissão. Como é difícil acertar. Um dos critérios que ele utiliza para demitir é a forma como o funcionário fez amigos ou inimigos dentro da empresa. Tem gente muito chata, meticulosa, legalista, mas ajuda é solidário. Outros são barulhentos, divertidos, falastrões, mas não ajudam ninguém, são egoístas e autocentrados. Ficam esperando elogios ao invés de trabalhar e de levar outros consigo para a vitória. Querem vencer sozinhos. Esses não permanecem na empresa. Os que ficam são aqueles que, não importando a personalidade que tem, são amigos, batalhadores, que elogiam os colegas quando acertam e criticam quando erram, mas o fazem discretamente. Pessoas assim não crescem por acaso, não tem sucesso por sorte. Crescem porque desde a infância aprenderam a valorizar o outro. São pessoas de “bom coração”.

(Revista Viver Curitiba, 2010)

MARCOS MEIER é mestre em Educação, psicólogo, escritor e palestrante. Seus textos encontram-se no site www.marcosmeier.com.br e seus livros no www.kapok.com.br.  

Como ajudar seu filho a ter uma autoestima saudável.

                                
Perguntei a uma menina de 6 anos de idade se ela gostava de si mesma e se as outras pessoas gostavam dela. Sua resposta foi surpreendente, ela disse que sim, pois gostava dela mesma por ser bonita, e que as outras pessoas gostavam dela por ser bonita e magrinha. Num primeiro momento pode-se achar que a autoestima dessa menina está legal, pois ela gosta de si e percebe os outros gostando dela. No entanto, as razões que justificaram suas respostas são assustadoras. Com seis anos de idade ela já está preocupada com a beleza e com o fato de ser magra. Para ela, pessoas de valor são pessoas bonitas e magras. Quanto preconceito! E isso numa menina de seis anos de idade!

Ela, como outras, já é vítima da influência da mídia, da moda, dos concursos de miss, das grifes e de outros contra-valores que lhes são transmitidos diariamente.

Temos que, como pais, apresentar os valores. Não adianta apenas combater o que está errado, precisamos ensinar o certo.

É claro que podemos falar de moda, estética, beleza e outros fatores relacionados com a aparência, apenas estamos mostrando que não devem ser esses valores que devem dirigir nossas vidas, mas os essenciais.

Para um melhor resultado na construção de uma autoestima saudável nas crianças, é necessário que você, mãe e pai também tenham uma boa autoestima. Você precisa gostar de si, investir tempo, dedicar-se a coisas que gosta. Valorizar-se. Um pai, por exemplo, pode dizer à esposa: “querida, vou jogar bola sábado à tarde”, sem peso na consciência e sabendo que está investindo em sua saúde mental, além da física.

E a mãe: “querido, vou sair com minha amiga, sexta à noite. Ainda não sabemos aonde vamos, mas vamos nos divertir”.

Esses pequenos exemplos são apenas para evidenciar algo que não é fácil fazer, principalmente para nós pais acostumados a nos entregar de corpo e alma no trabalho e na criação dos filhos, deixando de lado a nós mesmos.

Um pai, ou mãe, de bem com a vida, contagia positivamente seu filho e toca seu coração para que aprenda, desenvolva-se e assuma os fracassos e as vitórias em sua caminhada como ser humano realizado e feliz.

Não é fácil investir na autoestima, pois a mídia e o consumismo enviam diariamente mensagens contrárias. Uma mulher bonita é chamada de “modelo”. Modelo do que? Se há modelo, tem que haver cópias? As mulheres olham para a “modelo” e se percebem diferentes dela. Sentem um vazio interior e pensam em preenchê-lo. O consumismo sai ganhando, a autoestima, não.

E nossos filhos? Que mensagens recebem? Pesquisas têm mostrado que a criança brasileira é a que mais assiste TV no mundo, ou seja, é a que mais está exposta aos contra-valores. Nosso trabalho para ajudá-los a construir autoestima saudável é ainda maior. O primeiro passo é desmascarar o que a TV mostra. E dizer aos nossos filhos que ser honesto, ser responsável, ajudar as pessoas, ser ético e batalhador é muito mais importante que ser magro ou bonito.

(Publicado na revista Viver Curitiba, n 1 ano 1) 

MARCOS MEIER é mestre em Educação, psicólogo, escritor e palestrante. Seus textos encontram-se no site www.marcosmeier.com.br e seus livros no www.kapok.com.br.


MÃE TIGRE OU MÃE CORUJA?


Nos Estados Unidos foi lançado um livro polêmico. É a história de uma professora de direito, filha de imigrantes chineses, que narra sua trajetória como mãe. Até aí, nada de assustador. Entretanto, alguns relatos impressionam. Se a filha errasse, era chamada de “lixo”. Se as lições de piano não fossem perfeitamente executadas, a mãe ameaçava dizendo que queimaria todos os bichos de pelúcia. Atividade extra? Só se as filhas prometessem tirar medalha de ouro. Caso contrário, nem pensar! Em matemática, eram obrigadas a estar dois anos na frente de seus colegas. Além disso, uma série de proibições. Disciplina excessiva! Essa mãe, autora do livro “Battle Hymm of the Tiger Mother” (Hino de Batalha da Mãe Tigre) critica a maneira ocidental de criar filhos dizendo que somos muito permissivos e não exploramos o potencial deles.

Mas afinal, o que é certo e o que é errado na criação dos filhos?

Há inúmeras pesquisas científicas de psicólogos e educadores de renome apontando o melhor perfil na hora de educar as crianças. Ao passo que a mãe tigre não é psicóloga nem educadora de crianças, tampouco pesquisadora. Trata-se de uma especialista em direito e professora de adultos.

Para não ficar teorizando aqui, vejamos os três perfis mais “problemáticos”:

Perfil autoritário – atrapalha o desenvolvimento da autoestima e da personalidade das crianças. O maior índice de suicídio entre crianças e adolescentes está aqui.

Perfil superprotetor – não desenvolve a autonomia das crianças fazendo-as frágeis emocionalmente e dependentes de alguém que oriente e diga o que fazer em cada situação. Quando adultos, têm dificuldades em aceitar novos projetos e medo de tomar iniciativa.

Perfil negligente (a maioria dos pais ocidentais) – é o pior perfil de educador. Seus filhos não desenvolvem autonomia, têm baixa autoestima e não resistem às frustrações da vida.

Os três perfis trazem problemas para o desenvolvimento da personalidade das crianças. Mas então, o que fazer? O melhor é assumir o perfil “participativo” no qual os pais equilibram muito bem as exigências e as obrigações com o estar junto, brincar, ouvir, conversar, incentivar e, principalmente, construir um bom vínculo com os filhos. Pais participativos têm filhos felizes e realizados como seres humanos. Se a “mãe tigre” tem perfil autoritário, erra. Se a “mãe coruja”, que tem a tendência de superproteger aceitando como “lindo” qualquer resultado de seus filhos, também erra. O ideal é o equilíbrio: ser participativo. É científico, real, de muito bom senso e ideal para crianças emocionalmente saudáveis!

(Revista Viver Curitiba. Março/2011)

MARCOS MEIER é mestre em Educação, psicólogo, escritor e palestrante. Seus textos encontram-se no site www.marcosmeier.com.br e seus livros no http://www.kapok.com.br/.

terça-feira, 5 de abril de 2011

NEM SEXO FRÁGIL, NEM SEXO FORTE

 


“A mulher é o sexo forte”, “o mundo é das mulheres”, “as mulheres são mais fortes que nós homens”, “as mulheres são muito melhores que nós”... Quem já não ouviu alguns homens dizendo isso? São os demagogos. Os interessados em que elas “babem” e fiquem a seus pés. São os mesmos que depois de as conquistarem, não telefonam, não curtem ficar a sós, não buscam a intimidade. A mulher não é melhor que o homem. Nem ele é melhor que ela... São diferentes!

A busca pela igualdade é uma grande falácia. Quem quer ser igual? É na diferença que somos especiais, que somos complementares. As faltas de um são os pontos fortes do outro e essa maravilhosa interdependência é que nos faz felizes, inteiros.

Ela está uma “pilha de nervos” por causa da pressão no trabalho e se derrete chorando no colo dele? Não há homem no mundo que não se sinta especial, amado, forte e feliz por oferecer segurança e apoio nessa hora. Ele a ouve, acolhe e compreende seu choro. Ela se sente fortalecida, amada e compreendida nesse momento.

Ele está irritado, agressivo e com vontade de chutar o balde, de pedir demissão porque foi criticado pelo seu chefe? Ao lado da mulher, ele grita enraivecido por causa das injustiças que lhe fizeram. Ela, carinhosa, lhe diz que sua inteligência não está sendo aproveitada e que sua competência não é reconhecida e que vai chegar a hora do sucesso. Ele se acalma. Não há homem no mundo que não se sinta “o cara” por ter uma mulher assim. Não há mulher no mundo que não se sinta importante nessa hora.

Nossas diferenças nos fazem interdependentes, nos fazem completos, realizados e felizes. É mil vezes melhor uma mulher dizendo: “não se preocupe amor, estou com você” do que dizendo: “ô cara, bola pra frente! Mostre sua garra, não deixe que pisem você”. É preferível que ela compartilhe seu choro, abrace seu parceiro e lhe peça apoio do que se sacrifique para “ser igual” dando uma de “poderosa”, enquanto chora escondida numa espécie de solidão silenciosa.

Melhor andar de mãos dadas. Somos diferentes, complementares. E como é maravilhoso podermos ser nós mesmos... nada mais, nada menos.

(Revista Viver Curitiba. Janeiro/2011)

MARCOS MEIER é mestre em Educação, psicólogo, escritor e palestrante. Seus textos encontram-se no site www.marcosmeier.com.br e seus livros no www.kapok.com.br.