segunda-feira, 13 de setembro de 2010

sexta-feira, 10 de setembro de 2010

NÃO EXISTE BALA PERDIDA

Não dá mais para suportar! Nesta sexta-feira (03 set 2010), mais uma criança morreu vítima de uma “bala perdida”. Ou melhor, foi assassinada. Aconteceu em Florestópolis, uma cidade a 73km ao norte de Londrina, PR. O menino tinha apenas 11 anos de idade. A bala veio de uma troca de tiros entre traficantes.


Isso é o que aparece na mídia, o que os jornais divulgam e a TV mostra. O que não aparece é o descaso da sociedade com o problema nacional que atinge nossos jovens: as drogas. Cidades do interior, essencialmente agrícolas, de famílias tradicionais, trabalhadoras, que sabem ensinar valores e princípios a seus filhos, estão desesperadas. O crack, droga derivada da cocaína, custa 5 reais a pedrinha. Na primeira vez que a vítima usa, já fica com uma vontade imensa de usar de novo. Na quarta vez, já é dependente químico. E os índices de recuperação de dependentes em clínicas especializadas são assustadoramente pequenos. Usar o crack é como receber uma sentença de morte.


E o que você e eu temos a ver com isso? Ora, as eleições estão aí. Até agora não vi absolutamente nenhum candidato apresentar uma proposta séria de combate ao tráfico. Talvez haja, eu é que não conheço. Tudo que ouço são apenas promessas: “Vamos combater o tráfico de drogas”, “Vou investir na saúde”, “Vou acabar com a insegurança”, “Educação é prioridade número um”, e mais um monte de bla-bla-blás... Propostas concretas com cronogramas, fases e orçamento definidos? Nada! Talvez nem saibam fazer um projeto, um planejamento estratégico estruturado e bem definido.


Enquanto isso, vamos acreditando nas historinhas bem contadas dos candidatos. E ainda pior, acreditando que nosso voto vai mudar alguma coisa. Está na hora de pararmos de ser ingênuos. Há séculos o Brasil sofre com o descaso, com a falta de planejamento a longo prazo, com o corporativismo, com a “lei da vantagem a qualquer custo”, com projetos mirabolantes, com a impunidade e com uma série de outras coisas que nos fazem desacreditar que o Brasil tem jeito.


Que tal a gente cobrar dos candidatos e dos novos eleitos, projetos bem fundamentados em todas as áreas essenciais do nosso país? Que tal fortalecer as instituições de controle ao invés de acreditar que “dessa vez” os candidatos estão falando a verdade e vão mudar a vida no país? Se as polícias, ministério público, tribunal de contas, justiça (federal, estadual e municipal), corregedorias etc tiverem voz, agilidade e verbas, a impunidade começa a não ter vez. Se não forem vítimas de canetadas do executivo, então suas ações serão levadas a sério. Não dá para aceitar que um sujeito possa ser preso por desvio de verbas, lavagem de dinheiro, lá fora e aqui no país passeie de carrão rindo da nossa cara.


Não dá mais para aceitar que adolescentes arrogantes, prepotentes, traficantes e sem objetivos éticos ameacem seus professores e os façam perder a coragem de tentar mudar o comportamento deles.


Sabemos que o país que investe de verdade em educação, muda a sociedade e o futuro de seus jovens. O que fazemos no Brasil? Os professores estão sendo melhor preparados ou o governo abre espaço para leigos atuarem em sala de aula? Não seria melhor investir na formação, na cobrança, no investimento e na carreira profissional dos educadores?


Queremos distribuir melhor a renda? Que tal começar com aumento salarial (sei que só isso não funciona, mas sem isso não dá pra começar) a todos os professores no país todo? A cidadezinha lá do interiorzão terá professores com excelentes salários, fazendo com que seus alunos sonhem em se tornar, também eles, professores. Em torno de um professor bem pago, haverá uma família orgulhosa pela educação e seus efeitos. Mas vemos políticos gritando em palanques que mesmo sem ter estudado se tornaram líderes! Que mensagem é essa? Terrível para nossos jovens.


Bala perdida? Não. Não há bala perdida. Há balas financiadas pelo descaso. De todos nós, que infelizmente deixamos tudo isso acontecer e sonhamos com “dessa vez vamos eleger alguém que pensa em nós.” Chega de ingenuidade.




MARCOS MEIER é mestre em Educação, psicólogo, escritor e palestrante. Seus textos encontram-se no site www.marcosmeier.com.br e seus livros no www.kapok.com.br.